MUSEU QUILOMBOLA NO SERTÃO DO MOXOTÓ
Cultura regional se perpetua através da criatividade sertaneja
Preocupados em preservar as tradições de seus antepassados e deixar registrada a história de seu povo, a comunidade quilombola do sítio Buenos Aires, situada a 20 km do município de Custódia,cidade localizada a 340 km da capital pernambucana, resolveu montar um Museu com objetos que pertenceram aos fundadores e moradores daquele grupo étnico. A exposição contém itens pessoais de escravos que viveram na região por volta de 1840. Tem um pilão que servia para “pisar milho e café” até uma máquina de costura de 1845.
O Museu foi instalado em uma pequena casa de tijolos e telhas, com três quartos, uma sala e um pequeno corredor. As peças expostas estão em uma estante e duas mesas, doadas pelos moradores. Há objetos espalhados pelo chão do corredor. Pode parecer falta de cuidado, mas essa é uma característica dos seus antepassados que revela a organização da comunidade.
Fundado no ano de 2007 o Museu da Comunidade Quilombola conta com a participação de todos os moradores quilombolas que tem o intuito de reunir o maior número de acervo possível. Responsável pela manutenção desse patrimônio cultural, Maria Angelita de Rezende, 43, explica que ela não é a única a zelar pelos artefatos deixados pelos seus ancestrais africanos: “Todos na comunidade são responsáveis pela conservação e organização do Museu. Os objetos expostos contam a história desse lugar e divulga o trabalho de pessoas da região”, explica.
Remanescente de escravos, José Givanildo da Silva, 26, faz artesanato em barro e tem o seu trabalho exposto no museu da comunidade quilombola. A sua produção apresenta um estilo barroco. Ele aproveita no cenário sertanejo subsídios que o inspire no momento da criação, retratando uma diversidade de temas, desde elementos culturais da região (o carro de boi) até a religiosidade presente na comunidade (catolicismo). Algumas peças são pintadas usando cores fortes que vão do preto ao azul e vermelho vivo, outras dispensam o colorido criando um aspecto rústico.
O sertão do Moxotó não possui tradição no artesanato em barro, mas quem vai a Custódia pode conhecer o trabalho de Givanildo da Silva que está localizado na zona rural da cidade. Para o artesão as suas peças são valorizadas. “O meu trabalho é reconhecido pelo pessoal da região. Algumas pessoas gostam e outras não do meu trabalho, mas isso faz parte da vida”, relata.
Para a balconista Lúcia Rodrigues, 46, compradora das peças do artesão: “A região pouco valoriza o artesanato local e ter implantado um espaço para expor as esculturas de barro e peças antigas doada por remanescente de escravos foi uma boa idéia. Não é todo mundo que tem a sensibilidade de perceber a importância desse trabalho tanto para a comunidade quilombola quanto para as regiões circunvizinhas”, declara.
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